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A rede

Atualizado: 9 de set. de 2019


Cada vez mais estou atenta ao conceito de rede, afinal vivemos a era da informação em rede, rápida e imediata. Os efeitos das exigências de pronta resposta e novas propostas desta comunicação "em tempo real" são meramente as respostas, ora benéficas, ora nefastas, frutos deste ritmo imposto nas novas relações.

É certo que as últimas trinta coisas muito legais que conheci, só vieram ao meu conhecimento via rede.

Também é certo que cada vez mais vejo pessoas afetadas pelo despejo de toneladas de informação por segundo.


Rede remete à uma condição que liga várias informações, costura linhas entre si, tomando um formato que tem por finalidade distribuir a informação para o máximo de indivíduos ao mesmo tempo.


Uma das características da rede é que dela ninguém pode escapar, mesmo que não seja apanhado pela rede, o fato de estar ou sentir-se fora dela é o suficiente para tecer comparação, que também é um modo de estar sob a influência.

É como uma rede de pesca de arrasto. Os peixes no centro sofrem mais pressão do que os da borda e da borda, alguns escapam; mas mesmo os que não foram apanhados precisam se reorganizar, então, ninguém escapa da rede.

É como olhar para a rede cheia de peixes e dizer " estou fora ".

Ilusão pura, porque está referenciando à própria rede, para sentir-se fora.

Filosoficamente não existe lado de fora, a sensação é apenas de estar observando pontos diferentes de um mesmo todo.

Redes são um quantum de informações complexas. Uma rede pode ser usada como abrigo. Uma rede pode te sufocar. Isso nos confunde. É bem possível que tantas informações, até antagônicas, vindas de um mesmo aspecto ou tema, traga insegurança, dúvida, medo, intensificando os processos naturais de defesa e auto proteção, pois todos queremos sobreviver e ter nossa identidade reconhecida e compreendida.

O mundo virtual nos conecta em rede. Milhões de informações por segundo  que não deixa espaço para reflexão, para o que chamamos de escolha.

A quem eu sigo?  O que significa para mim?  O que causa em mim? Quais os benefícios que percebo?

Eu cresço ou estagno?

Aquele post ou matéria tem aplicabilidade para mim?

Assim como na rede de pesca, saem-se melhor os peixes que conseguiram mais espaço, a necessidade da construção destes espaços internos, mesmo estando na inescapável rede, torna-se cada vez mais necessária para a saúde em todos os níveis.

Dos vários modos eficientes que conheço, a quietude e o silêncio são extremamente poderosos, para o hábito de encontrar ou desenvolver estes espaços. A quietude e o silêncio permitem que outras funcionalidades, menos reativas, se estabeleçam naturalmente.

Quitude e silêncio não são omissão. São pausas dedicadas para que, o que faz sentido para o ser, possa se revelar.

O nosso corpo é equipado para isso naturalmente.

Recentemente, a ciência atestou o que a medicina oriental já preconiza há séculos: funcionamos de acordo com um ciclo-ritmo circadiano.


O ciclo circadiano é a maneira pela qual nosso organismo se adapta à duração do período claro e do período escuro, de forma a sincronizar as funções fisiológicas. A oscilação da nossa temperatura corporal também obedece a um ritmo em que ela diminui de madrugada e perto da hora de acordar, volta a subir, e isso se repete todos os dias.

Essa adaptação se dá pela expressão de diferentes genes, os chamados genes batizados de Timeless. Esse é o relógio biológico principal.


Apesar da ciência tradicional ainda engatinhar em relação aos ensinamentos dados pela Tradicional Medicina Oriental, que aprofunda este conhecimento em relação aos órgãos e vísceras, por onde a energia transita em cada hora do ciclo de 24 horas, é um grande avanço.


E o que temos feito com o nosso ciclo circadiano?

Diante da necessidade e exigências de estarmos informados o tempo todo, atualizando feeds, fazendo relacionamentos de rede, nos mantendo conectados todo o tempo com nossas mentes projetadas para o próximo lance; estamos nos auto agredindo e construindo disfunções na organização fisiológica e biológica.

Não sabemos mais desligar.

Por incrível que parece, já atendo pessoas com dificuldade de fechar os olhos.

Fechar os olhos traz a sensação de escuro. O escuro induz ao sistema corporal que desligue a atenção. Mas, não podemos não estar atentos às informações.

Precisamos ler todos os posts, todas as notícias, comentar todos os memes, replicá-los sem o devido espaço saudável de perceber se aquilo é realmente útil.


O corpo precisa de descanso. Quando foi a última vez que você se conectou com algo similar ao descanso, a diminuição da rotação do motor?


Vamos concordar que os peixes que se debatem tem um desgaste muito maior do que aqueles que diminuem suas funções de reatividade.


Como não têm pálpebras, os peixes não podem fechar os olhos e seu período de descanso consiste num estado de imobilidade apenas aparente, no qual mantêm o equilíbrio por meio de movimentos muito lentos das nadadeiras. Algumas espécies descansam deitando sobre o fundo do mar ou do rio, outras se escondem entre vegetação densa ou em buracos. Sem repousar, o peixe morreria de cansaço. https://super.abril.com.br/mundo-estranho/os-peixes-dormem/

Répteis também fazem isso.


Não fosse pelo processo de regulação da temperatura corporal – o que tecnicamente se chama termoregulação- a temperatura dos répteis tenderia a subir conforme as temperaturas ambientais aumentassem. Contudo o que se nota é que ela relativamente estabiliza em um determinado valor. Este valor de temperatura é considerado como aquela ideal para grande parte das reações metabólicas que acontecem no corpo do animal. https://blogdonurof.wordpress.com/2010/11/28/um-pouco-sobre-a-ectotermia-temperatura-corporal-nos-repteis/


Nos peixes e nos répteis, assim como em outros mamíferos, o padrão da quietude e silêncio se revela. Seria um princípio meditativo natural?

Então, nós também podemos aprender.


Mas como calar a boca da mente tagarela, que quer porque quer, gritar ao mundo sua dor? Nós não a calamos. Acolhemos em primeiro lugar,  mas permitindo a possibilidade de que, no meio do turbilhão, exista um lugar vazio, quieto, silencioso, que precisamos encontrar.


Não somos peixes, nem répteis, nem mamíferos inferiores. Somos os Sapiens, o pessoal no topo da cadeia, que pela complexidade, demora muito para entender a natureza básica das funções fisiológicas e cíclicas.

A maior parte das pessoas que chega para processos terapêuticos, vem acompanhada de mil histórias para contar.  Todas muito importante, sem dúvida. Mas a percepção de alguma mudança é sentida, de verdade, quando a mente racionalizadora cala e um novo espaço acontece. O silêncio pode ser um ato político pessoal, quando podemos perceber que há uma nova ação, diferente da experiência de seguir algo sem refletir, repetindo os processos patológicos; fica então disponível uma nova escolha mais saudável, que reflete, reavalia e prioriza o que traz auto conhecimento e saúde.

Isto pode estar numa simples ação de escolher entre um fast food e uma comida mais saudável.


A quietude e o silêncio são auto-terapia. Aprender a respirar, pausar, deixar o falatório mental aplacar antes de reagir, retorna o corpo para o processo básico de economia de energia, como peixes e répteis sabem fazer. Isso pode salvar sua vida, suas relações e construir melhores limites para lidar com as questões diárias.


Na verdade estamos equipados para isso desde sempre, mas desaprendemos a função "pause".

A rede nos pegou. Estejamos no centro, na borda ou escapando pelas tramas, estamos afetados pela rede.


Então, já que estes aparelhinhos incríveis tornaram-se extensão dos nossos corpos, é preciso dar a eles funções saudáveis. Para isso é preciso conhecer prós e contras. Celulares facilitam os procesos de aprendizagem e celulares determinam que sua miopia irá aumentar. São fatos, não podemos fugir.

Pense sobre isso: crianças sem fator genético para a miopia, serão miopes funcionais, pois celular virou babá. E este é somente UM exemplo.


Ter conhecimento nos ampara no sentido de tomar responsabilidade e possibilitar novas ações. Nada é bom ou ruim. O serviço que fazemos das coisas é que assume estas polaridades.


Que tal aprender com os peixes?

Que tal dar atenção ao seu ciclo circadiano?

Antes que inventem um princípio ativo facilmente adquirido nas drogarias de todo o mundo: " Circadianol, coloca você no seu ritmo".


Ah! Mas só funciona se você tomar na hora certinha.



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CELIA BARBOZA

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