São muitas linguagens e, em todas, o modo de perceber o mundo e ser percebido pelo mundo, passa pelos filtros de tudo aquilo que pode ser argumentado pelos sentidos e pela mente, o que significa que, para existirmos nesta dimensão, precisamos da corporificação.
Tudo que experimentamos, vemos, ouvimos, sentimos, é traduzido em códigos neurais, por um grande processador chamado cérebro, que decodifica em conceitos conhecidos e aceitos, tanto pelo inconsciente coletivo como pela nossa percepção individual, memórias e sistemas de crenças.
Afinal de contas, um gato é um gato, e ninguém poderia argumentar o contrário.
Se vamos acariciar ou jantar o gato, dependerá dos fatores da enculturação e daí, novos circuitos neurais, novos conceitos, novas crenças.
Este composto de experimentações do mundo, embasa nossas emoções e até mesmo os pensamentos e tudo é tão automático e inquestionável, que é assumido como verdade ou mentira, bom ou ruim, certo ou errado.
Mas veja que interessante... são apenas filtros.
Troque o filtro, troque as certezas.
A boa notícia é que podemos trocar, também, as incertezas e descortinar uma nova maneira de nos perceber no mundo e o que supomos sobre ele.
Todas as percepções, sejam emoções ou pensamentos, também estão condicionadas à uma experiência fisiológica. O aprendizado está diretamente ligado à emoção. É por isso que lembramos daquele professor ou professora supra sumo, que nos encantou. Lembramos da voz, do jeito, da aula inteira.
Não está descartada a hipótese da minha querida tia Julieta, da primeira série, estar na base da minha construção terapêutica. Porque ela amava olhar pra gente. Pelo menos, eu amava ser olhada por ela e sentir que "ela estava junto".
A alegria tem uma fisiologia própria, a euforia também, assim como para a preocupação e tudo aquilo que sentimos.
Então, tudo é expresso e percebido pelo corpo e NO corpo. A mente é a "potentia", o potencial por onde se processa a observação. Talvez esta seja a tendência de "resolvermos tudo na cabeça".
Encontrei uma literatura vastíssima sobre o ritual de cortar as cabeças, desde fatos históricos como as batalhas celtas, até as figurações mitológicas como a Medusa, passando pelos ensinamentos do general Sun Tzu em "A Arte da Guerra" e outros.
Em todas, há uma referência ao poder que emana da cabeça, e daí sua importância, no sentido de manter o controle.
Golpes na cabeça, em todos os povos e rituais, tem o objetivo de desorientar o inimigo, tirar-lhes a identidade e exibir como troféus.
De acordo com o filósofo Platão, a alma estava dividida em três partes e, ao harmonizar essas três partes, era possível encontrar a felicidade, o bem:
Alma Concupiscente: localizada no ventre, a alma concupiscente estava relacionada com os desejos carnais.
Alma Irascível: localizada no peito, a alma irascível estava relacionada às paixões.
Alma Racional: localizada na cabeça, a alma racional estava relacionada ao conhecimento.
Achei muito apropriado que Platão localizasse aspectos da alma em outras partes do corpo, que não a cabeça.
Aposto que você já viveu a experiência da sua cabeça dizer uma coisa e seu corpo querer outra, radicalmente diferente.
Reconhecer o que sentimos em nosso corpo sábio e resiliente, é assumir responsabilidade sobre si e isso inclui aprender a conhecer as respostas ofertadas pelo corpo, muito antes da conjectura mental.
Em sua aventura, indignada Alice diz ao seu cão: “Desde que caí naquele buraco de coelho, foi me falado o que fazer, e quem devo ser. Fui encolhida, esticada, arranhada, e enfiada numa chaleira. Fui acusada de ser e não ser Alice, e esse sonho é meu! Eu decidirei daqui em diante”.
Nestes tempos, cabeças se apresentam para conscientemente perceberem o melhor caminho para si e todos os seres. Pelo menos, esse é um sonho.
Enquanto esta realidade não acontece, faço como Alice e sigo tendo pelo menos seis pensamentos impossíveis antes do café da manhã. Mas se estes pensamentos não repercutem no meu corpo, em energia, alegria, sensação de SIIIIMMMMMM!!! eu os abandono e trago outra coisa.
Se é sonho, que seja saudável e gostoso de sentir, né? O corpo agradece.
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